Relembre histórias, jogos, gols, e fatos que marcaram o clássico ao longo desses 100 anos.
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O Fla x Flu é como o filho e o pai em uma eterna discussão. O filho por sua vez, menos educado, arrogante, abusado e que se acha moderno, imagina ter sempre razão. E o pai, que se julga superior por ser mais velho, mais sábio e já conhecer os principios da vida, também achar ser o dono da razão. Pelo já dito, vocês conseguiram entender quem é quem nessa história.
Vamos viajar no tempo e relembrar fatos e histórias desse clássico que vai muito além das partidas disputadas.
Nascimento do clássico
A
história do Fla-Flu, como o clássico foi batizado pelo jornalista
Mário Filho,e que começou em 1912. Em novembro do 1911, atletas do
Tricolor decidiram deixar o clube das Laranjeiras e fundar o
departamento de futebol no Clube de Regatas do Flamengo. Em 7 de julho
de 1912, os ex-companheiros se enfrentaram pela primeira vez. O Flu
levou a melhor pelo Carioca: 3 a 2. Três meses depois, o Fla goleou o
adversário por 4 a 0.
Veja a representação feita pelo Globo Esporte sobre o 1º jogo.
Partidas e gols históricos do clássico
Gol de barriga
Gol de Assis. " O Carrasco."
Zico brilha e Flamengo faz 4 a 1 no Tricolor
1968 - O gol de mão de Wilton
Muitos
tricolores afirmem que esta partida, disputada em 13 de outubro de
1968, valeu um título, mas na verdade, tratava-se de um jogo para
cumprir tabela pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa daquele ano. Mas este
Fla-Flu entrou para a história pelo gol marcado por Wilton. O atacante
tricolor recebeu lançamento e desviou a bola com a ajuda do braço.
Apesar dos protestos dos rubro-negros, o árbitro Armando Marques
validou o lance, após consultar o auxiliar.
1983 - Urubu vai parar nas mãos do Flu
O
Fla-Flu do triangular decisivo do Carioca de 83 foi interrompido logo
no começo por um motivo inusitado: um urubu, ave símbolo do
Rubro-Negro, pousou no gramado e precisou ser retirado. Mas ao
contrário do que se imaginava, não trouxe sorte ao Fla. O Tricolor
venceu por 1 a 0 com gol de Assis, que aproveitou passe de Delei para
invadir a defesa adversária e marcar. A vitória deixou o Flu
praticamente com a mão na taça do Estadual daquele ano, confirmada com a
vitória do Flamengo sobre o Bangu no terceiro jogo.
1991 - O calcanhar de Nélio
No
clássico que valeu pelo Brasileiro de 1991, o Tricolor saiu na frente
com gol de Renato Carioca e foi para o intervalo vencendo. Na etapa
final, o empate do Fla veio aos cinco minutos, com Jefferson. Porém, o
grande lance do jogo estava guardado para o fim: no último minuto,
Válber tentou fazer embaixadinha na defesa tricolor, mas perdeu a bola,
que sobrou para Nélio tocar de calcanhar para o fundo das redes e dar a
vitória ao Rubro-Negro.
2010 - O gol de goleiro
O
jogo valeu pelo primeiro turno do Brasileiro de 2010, vencido pelo
Flu. Foi o último clássico disputado no velho Maracanã, mas o público
nem de longe lembrou os de outros tempos: apenas 14 mil torcedores. O
Tricolor não deu bola, e venceu por 2 a 1, gols de Rodriguinho e Conca.
Mas foi o tento rubro-negro que entrou para a história, marcado pelo
goleiro Bruno em cobrança de falta, aos 45 minutos da etapa final. O
primeiro e único de um arqueiro na história do clássico.
* Histórias reúnidas pelo Jornal Lance*OS 10 maiores públicos do Fla-Flu
O Público abaixo, é referente apenas aos pagantes.
- Flamengo 0 a 0 Fluminense, 194.603, C. Estadual, 15/12/1963
- Flamengo 2 a 3 Fluminense, 171.599, C. Estadual, 15/06/1969
- Flamengo 0 a 0 Fluminense, 155.116, C. Estadual, 16/05/1976
- Flamengo 0 a 1 Fluminense, 153.520, C. Estadual, 16/12/1984
- Flamengo 0 a 2 Fluminense, 138.599, C. Estadual, 02/08/1970
- Flamengo 1 a 1 Fluminense, 138.557, C. Estadual, 22/04/1979
- Flamengo 5 a 2 Fluminense, 137.002, C. Estadual, 23/04/1972
- Flamengo 2 a 1 Fluminense, 136.829, C. Estadual, 07/09/1972
- Flamengo 3 a 3 Fluminense, 136.606, C. Estadual, 18/10/1964
- Flamengo 1 a 0 Fluminense, 124.432, C. Estadual, 23/09/1979
Terminarei este post com uma crônica de um gênio da dramaturgia e da escrita. Nelson Rodrigues escreveu lindas crônicas, e uma que não é simplesmente linda, mas sobrenatural e excepcional. Falo de uma crônica sobre um Fla Flu, este que é um dos maiores clássicos do Futebol Mundial, e por isso, Nelson não poderia deixar de ser lembrado.
"Amigos,
a humildade acaba aqui. Desde ontem o Fluminense é o campeão da
cidade. No maior Fla-Flu de todos os tempos, o tricolor conquistou a
sua mais bela vitória. E foi também o grande dia do Estádio Mário Filho.
A massa “pó-de-arroz” teve o sentimento do triunfo. Aconteceu, então, o
seguinte: — vivos e mortos subiram as rampas. Os vivos saíram de suas
casas e os mortos de suas tumbas. E, diante da platéia colossal,
Fluminense e Flamengo fizeram uma dessas partidas imortais.
Daqui
a duzentos anos a cidade dirá, mordida de nostalgia: — “Aquele
Fla-Flu!”. Ah, quem não esteve ontem no Estádio Mário Filho não viveu. E
o Fluminense fez uma exibição perfeita, irretocável. Lutou com a alma
indomável do campeão. Ninguém conquista o título num único dia, numa
única tarde. Não. Um título é todo sangue, todo suor e todo lágrimas de
um campeonato inteiro.
Acreditem:
— o Fluminense começou a ser campeão muito antes. Sim, quando saiu do
caos para a liderança. “Do caos para a liderança”, repito, foi a nossa
viagem maravilhosa. Lembro-me do primeiro domingo em que ficamos
sozinhos na ponta. As esquinas e os botecos faziam a piada cruel: —
“Líder por uma semana”. Daí para a frente, o Fluminense era sempre o
líder por uma semana.
Olhem
para trás. Da rodada inaugural até ontem, não houve time mais regular,
mais constante, de uma batida mais harmoniosa. Mas foi engraçado: —
por muito tempo, ninguém acreditou no Fluminense, ninguém. Um dia,
Flávio veio de São Paulo. Era o ponta-de-lança mais esperado que um
Moisés. Queríamos um goleador. E nunca mais se interrompeu a ascensão
para o título.
O
curioso é que, há muito tempo, aqui mesmo desta coluna, fez-se o
vaticínio de que o campeonato teria a sua decisão num Fla-Flu. Foram
autores de tal profecia, primeiro, o Celso Bulhões da Fonseca; em
seguida, o Carlinhos Niemeyer, um e outro rubro-negros. O que ambos não
sabiam é que já estava escrito há 6 mil anos que o campeão seria o
Fluminense. E vou citar um outro oráculo: o Haroldo Barbosa. Quando o
tricolor parecia uma piada, o bom Haroldo piscou o olho para o Marcello
Soares de Moura: — “Este é o ano do Fluminense!”. E do seu olhar vazava
luz.
E
mais: — na sexta-feira, o presidente do Fluminense, Francisco Lapport,
convidou para um almoço, em sua residência, a mim, ao Marcello Soares
de Moura e ao Carlinhos Nasser. Ainda na mesa, e antes do cafezinho,
baixou-nos o sentimento profético do título. Amigos, o que se viu ontem
no Estádio Mário Filho foi espantoso. Primeiro, a tempestade de
bandeiras, de pó-de-arroz, os pombos tricolores e rubro-negros.
E
que formidável partida! Houve, durante noventa minutos, um suspense
mortal. O Fluminense fez o primeiro gol e o Flamengo empatou. O
Fluminense fez o segundo e o Flamengo mais uma vez empata. Duzentas mil
pessoas atônitas morriam nas arquibancadas, gerais e cadeiras. E foi
preciso que Flávio, o goleador do Fluminense, o goleador do campeonato,
marcasse aquele que seria o gol da vitória, da doce e santa vitória. E o
rubro-negro não empatou mais, nunca mais. Era a vitória, era o título.
Agora
a pergunta: — e o personagem da semana? Podia ser Cláudio, que fez uma
exibição magistral e, inclusive, um gol. Podia ser Denílson, que volta
a ser o “Rei Zulu” e um dos maiores jogadores brasileiros de defesa.
Penso também em Galhardo, que, a princípio nervosíssimo, teve
intervenções sensacionais. Podia ser também Telê, que, sóbrio, modesto,
trouxe a equipe do caos para o título. Mas entendo que desta vez o
personagem deve ser o time. Do goleiro ao ponta-esquerda. Todos, todos
mostraram uma alma, uma paixão, um ímpeto inexcedíveis.
Pelo
amor de Deus, não me venham dizer que, no segundo tempo, o Flamengo
jogou com dez. O rubro-negro cresceu com a desvantagem numérica,
lançou-se todo para a frente. Eram dez fanáticos dispostos a vencer ou
perecer. O Flamengo teve ontem um dos grandes momentos de sua história.
Mas,
dizia eu no começo que a nossa humildade pára aqui. Passamos toda a
jornada com um passarinho em cada ombro e as duras e feias sandálias
nos pés. Mas o Fluminense é o campeão. Erguendo-me das cinzas da
humildade, anuncio: — “Vamos tratar do bi”."
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Nelson Rodrigues - 1912*1980 |
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